Coluna Ancestral

26/07/2024 18:16

FESTANÇA DE VILA BELA DA SANTÍSSIMA TRINDADE 2024

 

Na Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade, sede da capitania de Mato Grosso, a partir do ano de 1752, 520 km da capital, com 17 mil habitantes, exteriorizam seu amor à ancestralidade e reafirmam sua identidade negra – seja usando coloridos trajes afro ou turbantes; fazendo, saboreando, partilhando comidas, os biscoitos, o Kanjinjin e a Xixa; rezando, cantando e dançando ao ritmo do Congo, do Conguinho, Chorado e Choradinho, enaltecendo os Santos e a comunidade negra.

A devoção e os ritos do Divino Espirito Santo, São Benedito, à Gloriosa Mãe de Deus e às Três Pessoas da Santíssima Trindade, ritualizam significações de herança cultural afro-brasileira e ameríndia, são tradições singulares, únicas, no envolvimento coletivo do povo do Vale do Guaporé.

Valores familiares, recriam miticamente o passado, numa festividade com elementos que revivem a história local e, fazendo reconexões percorrem os trajetos realizados pelas gerações pregressas, ressignificando a cultura, nessa identidade vila-belense que tem como guardiãs as famílias negras dessa cidade.

Em 2024, os principais representantes da preservação dessa história são os festeiros da Festança.

Os Festeiros do Senhor Divino Espírito Santo são o Imperador Francisco Roobin Profeta Vieira; a Imperatriz: Aedir dos Santos Pinto e Silva; Capitão do Mastro: Jean Kenedes Fernandes Leite; Alferes da Bandeira: Manoel Neto Maciel Aranha; Procuradora Ruth Ayardes e o Procurador Nilmar Rodrigues da Cunha; os Mordomos Berchman Leite Ribeiro, Luiz Guilherme Geraldes de Oliveira, Dalmer Coelho dos Santos e Edclay Lopes Coelho.

Elton Gomes Leite

O amor se manifesta, compartilha e transforma-se entre os foliões e a Bandeira do Divino Espirito Santo que percorre as casas dos vila-belenses sustentadas pelas negras mãos hábeis de Seu Berchman e do jovem Victor Bispo. Giva faz sua sanfona instrumento de devoção, Aldo Ramos dos Santos, o pai do Mato, transmuta-se em violeiro, as cordas da viola saúdam o Santo e os moradores. Tocando, encantando eles transmitem ensinamentos aos meninos cantadores Matheus Henrique Ramos Melo, Laio Cruz, Flávio Oliveira, João Gabriel da Silva, Isaque Sanches, Ângelo Emanoel da Silva, Juliano Ramos e ao caixeiro Júlio César Mendes. Com música, canto, instrumentação, criam formas de luta, sonho e transformam seu mundo, levando a todos uma outra realidade histórica, familiar, miticamente experienciada.

Cortejados pelo Congo de Vila Bela, os Festeiros do Glorioso São Benedito têm como Rei Edvan Lopes Coelho (em memória de seu pai, Martinos Reis Coelho); a Rainha Adelay Auxiliadora de Almeida, o Juíz Lenon Silvestres Frazão da Silva, a Juíza Maristela Geraldes de Paula, junto com as Ramalhetes Ana Luiza Taques de Almeida, Anna Flávia da Silva Chaves, Natália Ferreira Coelho, Reginaile Assumpção e a promesseira Maria Luiza Paulo de Melo, que reúnem a comunidade numa continuidade ancestralizada reverenciado os antepassados “pra fazer a nossa Festa de São Benedito”, como ecoa o canto da homenagem ao Santo.

José Medeiros

Finalizando a Festança temos os Festeiros da Gloriosa Mãe de Deus. O Juiz João Paulo Geraldes de Jesus e Juiza Isaíny Cristini Carneiro Geraldes, os Festeiros das Três Pessoas da Santíssima Trindade. O Juiz Ivanildes de Assunção e Juíza Mislene Aparecida Silva Morais.

Em honra todos os integrantes da festanças, aos demais participantes, que numa coletividade familiar se dedicam a fazer a festa, atualizam a devoção, a força comunitária, fervor religioso negro e a preservação da tradição cultural vila-belense.

Quem participa desta tradição mítica vê a dedicação à festa renova-se cada vez mais, em alegria e pertencimento para cada festeiro. Desejando bençãos e presença do Santo negro sejam constantes em suas vidas. Viva São Benedito, Viva também aos que congregaram fé, trabalho e união nesta que é uma das mais antigas tradições de Mato Grosso. “Viva os festeiros hoje e sempre!”.

Leticia Oliveira e Gilda Portella - Historiadoras e membras do Coletivo Herdeiras do Quariterê e do Comitê de Cultura de Mato Grosso 

José Medeiros


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